51 primaveras completadas, como costumo brincar “não quer
envelhecer morra cedo”, os sabores e as dores de chegar à longevidade são inevitáveis...
A maior dor sem dúvida alguma e ver os amigos e as
pessoas amadas partirem, esta dor é inquestionável, mãe, pai, irmãos, amigos,
parentes e por aí vai, perder o convívio
com aqueles que fizeram parte de sua história é uma dor dilacerante e
inigualável.
Sentir o escorrer
do tempo entre os dedos ... confesso que não é nada agradável, a cada dia sentir que o
tempo não volta e talvez não dê tempo para fazer tudo que ainda quer fazer...,
porém o tempo passa do mesmo jeito e você não tem como evitar.
Mas nestes 51 anos de existência tenho muito mais sabores
do que dores para relembrar... lembro do futebol embaixo de chuva, de pular o
muro do clube para jogar futebol ou nadar na piscina no clube que não podia
pagar, lembro dos primeiros bailinhos na escola (Senador Flaquer) nas festas de
encerramento do ano letivo, as primeiras danças de rostinho colado, em um
destes bailes tomei meu primeiro porre, em um ato de rebeldia fizemos uma festa
que não foi autorizada pela escola, fizemos na casa do Zé Carlos e da Silvia
com seus país ultra modernos para época, que deixaram pirralhos de 12 anos
(sexta série) realizarem um puta festa com muito álcool e música boa, na época sem violência e sem drogas
o máximo que acontecia era uma baita de uma ressaca e várias lembranças
sensacionais que carrego até hoje, nesta época vieram também as primeiras
desilusões amorosas que faziam parecer que o mundo ia acabar até que chegasse
um novo amor ou uma nova paixão.
Logo em seguida veio a mudança de São Caetano do Sul para
São Paulo que odiei, dias horríveis no Gallicho (Escola que terminei o
ginásio), mas passou e logo veio o “Plínio Barreto” (escola que fiz o
colegial), onde me redescobri com a prática do esporte (Futebol de salão, vôlei,
academia de musculação).
Na mesma época do final do ginasial no Gallicho veio meu
primeiro emprego aos 14 anos, com ele veio novas descobertas, as saídas para
dançar na inesquecível “Contramão” danceteria do Tatuapé em que passei muitas das
melhores noites da minha vida, antes de ir dançar passava no “Gaivotas” tomava
um Chopp preto e um comia um Cheese Bacon e ia para night, e assim foi por bons
anos sábados, domingos, feriados, dias santos, com febre de 39 graus ia dançar
na matinê e a noite, e acreditem não morri!!!
Nesta época vieram as brigas de salão e rua, muito murro
na cara e chute nas costelas, mas muita paquera e risada, muitas voltas em
volta da Praça Silvio Romero para ver o que estava rolando e quem eram os alvos
da noite, o acordo de cavaleiros com os amigos que era o seguinte: “ Quem pegar
mulher feia antes das duas da madrugada seria zoado, depois das duas estava
liberado” e assim caminhava a humanidade nos anos 80, erámos felizes e não
sabíamos, também eu dava os bailes de garagem, que no nosso caso eram normalmente
os bailes de apartamento, mais precisamente o apto da Cláudia Terra minha
querida amiga e de sua mãe saudosa Dona Darci que liberava a sala para “dar o
som” levava meu aparelho três em um “National” e meus discos de vinil, e assim passávamos
noites deliciosas dançando, namorando e tomando muito San Raphael, San Remi e
outras bebidinhas da época, além é claro da “Farmácia” (mistura de todas as
bebidas da Festa), fazíamos a famosa dança da vassoura, vassoura esta que entregávamos
para quem estava dançando com a garota que queríamos dançar e assim muitos
beijos e namoros começaram.
Mas logo depois vieram mais dores e algumas desilusões, e
veio a primeira tentativa ou mais precisamente o desejo de suicidar-me, e como
podem perceber não deu certo, com comprimidos nas mãos resolvi esperar mais
alguns dias, dias estes em que fiz uma viagem para Campos do Jordão em um feriado
de 01 de maio com o pessoal do trabalho e sofri um acidente que embora amigos
próximos pensassem que tinha tentado me matar foi de fato o que salvou minha
vida, caí de cima do “Morro do Elefante” fique a centímetros do precipício literalmente
falando, mas o acidente fez com que refletisse e optasse por viver mais e
desisti por hora de morrer!
Depois veio a primeira faculdade de comunicação na UMC-
Universidade de Mogi das Cruzes, muitas aventuras e travessuras, a descoberta
do Teatro amador, montei um grupo de teatro com amigos da UMC e da Faculdade São
Marcos e escrevi minha peça “Juventude Transviada” , obra que revelou para os
palcos e a Televisão brasileira meu amigo amado Caue Bonifácio que se tornou
ator e diretor de TV e teatro, infelizmente cometi um grande erro na época
deixei a faculdade antes de terminar no segundo ano, o que teria acontecido se
tivesse terminado naquela época a faculdade nunca saberei, mas confesso que é
um dos erros que mais me aborrecem.
Depois veio um momento religioso na minha vida em que me
dediquei a Umbanda, conheci pessoas vivas e mortas maravilhosas, muitas lembranças
boas desta época e algumas desilusões também, algumas lembranças impublicáveis,
porém saudosas lembranças.
Veio o primeiro casamento e entre idas e vindas o seu
término, a retomada da vida adulta e uma decolada na carreira, a época
financeira mais próspera da minha vida, ganhei muito dinheiro e gastei tudo
também, gastança que não me deu um futuro melhor, porém me comprou experiências
invendáveis e inesquecíveis, deixou marcas na alma chamada de lembranças que
não me arrependo jamais, e que vivi intensamente apesar de suas consequências,
mas o que vivemos é o que levamos de bagagem pela vida.
Daí veio o segundo casamento, sólido e definitivo, lá se
vão 28 anos de cumplicidade, barras pesadas e superadas, companheirismo e entendimento do que realmente vale a pena,
e um aprendizado diário, com ele vieram os filhos um biológico e outro de coração,
e depois os filhos que a educação me deu, e que muitas vezes demonstram mais
amor e consideração do que qualquer filho “legítimo”.
Para finalizar vieram as conquistas acadêmicas (faculdade
e pós graduações) e 13 anos até aqui de sala de aula, estava esquecendo de algo
importante o lançamento de meu livro em 2016, que foi um grande sonho
realizado.
Acredito que por hora chega de histórias, finalizo
dizendo que valeu a pena, esta crônica me fez passar um filme na minha cabeça,
revivi momentos incríveis, e só pude contar pois vivi cada uma delas, não sou
hipócrita quem me conhece sabe disto, é claro que preferia ter passado só pelos
sabores da vida e não pelas dores, mas a vida real não é assim, não vou usar o
famoso clichê “não me arrependo de nada que eu fiz, e sim do que deixei de
fazer” , mentira me arrependo de um monte de merda que fiz na vida, porém não
tenho como reconstruir o passado e sim tentar construir o futuro que tenho pela
frente, e o que tenho a dizer para terminar é que completar 51 anos em meio a pandemia
e tantas incertezas me faz ter vontade de viver intensamente o tempo que virá,
e escolho viver e sorrir neste futuro e quem sabe daqui mais algumas décadas se
ainda estiver por aqui escrever mais histórias que com certeza viverei, e que a
vida me reserve mais sabores e menos dores, e quando o fim chegar eu possa
olhar para trás e dizer levo comigo as lembranças do que vivi, e nesta bagagem
levarei ... aventuras, sonhos, realizações, amor e vida vivida, eis a crônica de 51 anos de
vida verdadeira, pode não ser uma vida politicamente correta, porém intensa e
plena!